Você sabia que milhares de brasileiros compartilham a mesma crença da Rainha Elizabeth II? Sim, estima-se que há entre 30 a 50 mil fieis brasileiros ligados de alguma forma à religião oficial da Inglaterra.
Estamos falando do Anglicanismo, segmento cristão ainda pouco expressivo em termos de números, mas que já exerce grande influência no Brasil. Nesta matéria exclusiva, a redação Buzz News traz as principais informações sobre essa interessante vertente cristã.
O que é Anglicanismo?
Para entendermos o Anglicanismo inicialmente, precisamos viajar até a Inglaterra do século XVI, período da Reforma Protestante e de conflitos entre a Coroa e o Papado. Entre os motivos das desavenças entre o Rei e o Papa, estava a negação por parte de Roma de um pedido de divórcio do rei.
Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, mas desejava se separar dela, algo que a doutrina Católica Romana era terminantemente contra. Tomado por um espírito de revolta, o rei obrigou o Parlamento Britânico a instalar diversas leis que fizessem com que a Igreja ficasse não mais sob o poder de Roma, mas do Estado Inglês.
Com isso, ele poderia manter a igreja sob a tutela do governo e dar continuidade aos planos de se separar da esposa. Assim, segundo alguns, surgiu a Igreja Anglicana, ramo do Cristianismo que ainda hoje mantém os traços católicos mas também está entre os ramos protestantes.
Este fato histórico coloca Henrique VIII nos holofotes e faz com que muitos acreditem ter sido ele o fundador do Anglicanismo, mas um mergulho mais fundo na história nos leva a compreender que a tradição anglicana vem de muito antes.
Anglicanismo além de Henrique VIII
Em um artigo do site Anglicanismo.com.br, o autor explica que a narrativa em relação à postura do Rei não está errada. Equivocada é a afirmação de que o Anglicanismo foi criado a partir disso.
O texto traz a informação de que o termo anglicano tem origem em ecclesia anglicana, expressão medieval latina do início-meado de 1200. Isso nos leva a entender que quase 300 anos anos antes da indisposição de Henrique VIII com o Papado, mesmo estando sob o poder de Roma, a Igreja Inglesa já era chamada como tal.
Outro fato é que a origem da Igreja da Coroa também passa por 595, quando o monge beneditino Agostinho foi convocado pelo papa Gregório I para liderar uma missão à Britânia. Por seu trabalho de evangelismo na Ilha Saxônica, Agostinho tornou-se o Apóstolo dos ingleses.
Um terceiro fato é determinante para jogar por terra a afirmação de que o Anglicanismo foi fundado por um rei egoísta. Quando Agostinho e os missionários chegaram à Ilha, parte da Bretanha já contava com uma considerável comunidade cristã, surgida a partir do trabalho dos Pais da Igreja.
Os adeptos do Anglicanismo
O Anglicanismo hoje conta com mais de 90 milhões de membros, e a Comunhão Anglicana é a terceira maior comunhão cristã no mundo, atrás apenas da Igreja Católica Apostólica Romana e da Igreja Ortodoxa.
Os adeptos do Anglicanismo são designados por anglicanos. A fé desse grupo de cristãos tem por base as Escrituras Sagradas, as tradições da Igreja Apostólica, e dos Pais da Igreja (Patrística).
Por ter uma tradição antiga e receber influência de costumes distintos, o Anglicanismo ainda mantém traços célticos, católicos e protestantes. Por conta disso, alguns dizem que os anglicanos são “os mais protestantes dos católicos e os mais católicos dos protestantes”.
Em outro artigo, o escritor Paulo Maccedo explica por que se tornou anglicano e lista os treze pontos que, segundo ele, foram determinantes para fazê-lo aderir à Religião Inglesa: as questões vão desde fé e tradição a liturgia e ritos.
Um traço destacado por ele e outros adeptos do anglicanismo é o ecumenismo. “Num geral, o Anglicanismo é o que parece dialogar melhor com outros ramos do Cristianismo, praticando um ecumenismo saudável”.
Ele explica que até mesmo as alas mais conservadoras anglicanas parecem rejeitar o tipo “proselitismo exacerbado e fundamentalismo radical”, o que facilita a conversa entre diversos tipos de cristãos, e torna a comunhão mais ampla.
Religião da Rainha
A religião do Estado da Inglaterra é a Igreja Anglicana, cuja soberania está assegurada pelo monarca, e o chefe da igreja é o Arcebispo da Cantuária (atualmente, Justin Welby). Tradicionalmente, a Rainha Elizabeth II é a Governadora da Igreja Inglesa, e todos os membros da família real são anglicanos.
A Rainha Elizabeth já demonstrou apoio a diálogos inter-religiosos com líderes de outras igrejas e religiões, incluindo cinco papas: Pio XII, João XXIII, João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
Uma nota pessoal sobre sua fé frequentemente aparece em suas transmissões anuais da Mensagem Real de Natal para toda Commonwealth, como em 2000, quando falou sobre a significância teológica do milênio marcando o 2000º aniversário do nascimento de Jesus Cristo:
“Para muitos de nós, nossas crenças são de fundamental importância. Para mim, os ensinamentos de Cristo e minha própria responsabilidade pessoal diante de Deus fornecem uma estrutura em que tento levar a minha vida. Eu, como muitos de vocês, alcancei grande conforto em tempos difíceis a partir das palavras e exemplos de Cristo.”
Anglicanismo no Brasil
A história do Anglicanismo no Brasil inicia-se no século XIX, no contexto da transferência da corte portuguesa para o Brasil, o que trouxe destaque para a região nas relações exteriores e possibilitou a abertura das primeiras capelas anglicanas no país.
O Anglicanismo é o grupo protestante mais antigo em operação contínua no Brasil, e começou a arregimentar fiéis brasileiros após as iniciativas missionárias de membros da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, que obtiveram êxito a partir de 1889, quando foi proclamada a República, o que desvinculou a Igreja Católica do Estado e permitiu a livre conversão dos brasileiros a qualquer religião além da católica.
Em 2000 os anglicanos foram estimados em 0,2% dos evangélicos de missão em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o que correspondia a na época a 13.880 membros. Em 2009, nova pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas estimou os anglicanos em 0,01% da população brasileira, à época 19.400 membros. Hoje estima-se que 30 a 50 mil fieis brasileiros ligados de alguma forma à esta tradição.
Anglicanos influentes
Entre figuras históricas de destaque que são ou foram anglicanos, podemos citar os escritores G. K. Chesterton (posteriormente tornou-se católico romano), C. S. Lewis (autor de “As Crônicas de Nárnia”), o cardeal John Henry Newman, J. I. Packer, John Stott, T. S. Eliot e W. H. Auden. No Brasil, temos o Dom Robinson Cavalcanti, um pastor e escritor influente e querido no meio cristão.
O Site Anglicanismo.com.br tem caminhado para ser o maior portal sobre Anglicanismo em língua portuguesa!