O que é sobrevivencialismo – a filosofia aderida por milhões de brasileiros

Você já ouviu falar em sobrevivencialismo?

Enquanto escrevo estas palavras, ideias controversas permeiam o imaginário popular. Alguns acreditam que elites políticas planejam a implantação de um governo mundial totalitário – a chamada Nova Ordem Mundial…

Outros veem as guerras no Oriente Médio como prelúdio para o Apocalipse Bíblico, tendo a Nação de Israel como o “Relógio do Juízo Final”…

Outros ainda alegam que um novo vírus está sendo criado em laboratório para causar uma grande epidemia, tornando as massas completamente dependentes do poder estatal…

Há também aqueles que apontam para uma possível crise hídrica que poderia deixar a humanidade morrendo de sede.

Embora essas ideias sejam frequentemente rotuladas como ‘teorias conspiratórias’ propagadas por indivíduos considerados paranoicos e desconectados da realidade, há um fato inegável: a história ensina que a humanidade sempre enfrenta desafios dolorosos.

Catástrofes naturais, como terremotos, tsunamis e furacões, testam nossa capacidade de sobrevivência; conflitos geopolíticos e guerras abalam nações e redesenham fronteiras; epidemias, como a Peste Negra e a pandemia de gripe de 1918, ceifam vidas e moldam a história; colapsos econômicos, como a Grande Depressão, deixam comunidades inteiras em ruínas.

Portanto, independentemente da veracidade de algumas teorias que ciculam nas redes sociais, a lição que não podemos ignorar é que a história humana foi, é, e sempre será repleta de desafios imprevisíveis que podem afetar profundamente o que alguns chamam de ‘normalidade’. 

Diante disso, permanecer vivo é importante, e é justamente nesse contexto que surge…

O sobrevivencialismo

Na visão darwinista, dor, sofrimento e luta são os motores da evolução. E nós, Homo Sapiens, somos produtos de um processo brutal e prolongado de sobrevivência.

Enquanto 99% das espécies supostamente foram extintas, continuamos aqui, conquistamos o planeta e, ao que tudo indica, em breve estenderemos nossas fronteiras para o espaço.

Isso embasa o sobrevivencialismo.

O livro mais vendido de todos os tempos, a Bíblia Sagrada, contém inúmeros relatos de sobrevivência. Temos, por exemplo, a narrativa de Noé, que foi instruído a construir uma arca para se preparar para um dilúvio catastrófico que destruiria a Terra.

A obediência, visão e habilidade do patriarca Noé em reunir recursos, planejar cuidadosamente a embarcação e reunir um grupo diversificado de seres vivos, demonstra a importância da preparação para enfrentar eventos adversos. 

Os antigos caçadores-coletores dependiam da preparação para a caça, coleta e armazenamento de alimentos para enfrentar as estações de escassez. Eles também tiveram que aprender a fazer abrigos resistentes e roupas adequadas para sobreviver em ambientes variados;

Civilizações como a egípcia e a mesopotâmia dependiam de planejamento para gerenciar as enchentes dos rios Nilo e Tigre-Eufrates, bem como para enfrentar ameaças de invasões e desafios agrícolas.

Os exploradores e colonizadores europeus precisavam se preparar para viagens marítimas perigosas para sobreviver em terras desconhecidas, enfrentando hostilidades locais, doenças e falta de recursos;

O preparo também desempenhou um papel crucial na construção de castelos, fortificações e nas estratégias militares para resistir a invasões e defender territórios; a urbanização e as mudanças econômicas necessitaram de planejamento de cidades, sistemas de transporte e infraestrutura para acomodar o crescimento populacional.

As duas Grandes Guerras do Século XX enfatizaram não só a necessidade de organização militar, como também a importância do preparo civil, incluindo a conservação de alimentos e a construção de abrigos durante bombardeios;

Os riscos de guerra nuclear incluíram o estabelecimento de abrigos subterrâneos e planos de contingência em caso de ataque. 

Terremotos, furacões, inundações e outras catástrofes naturais demonstraram a importância de sistemas de alerta precoce, planos de evacuação e abrigos de emergência;

Já o século XXI trouxe uma ênfase para as mudanças climáticas, incentivando medidas de adaptação, bem como a necessidade de planos de resposta a pandemias.

Todos esses exemplos nos trouxeram de herança maneiras eficientes de sobreviver, e hoje, na era pós-moderna, muito disso pode ser acessado de maneira sofisticada por nós.

Temos à disposição uma ampla gama de dispositivos — dos mais rudimentares aos mais tecnológicos — que nos permitem viver mais bem preparados. 

Mas o que seria exatamente “Sobrevivencialismo”?

O conceito por trás desta palavra pode soar estranho a alguns, já que vivemos em um tempo de muito conforto e prosperidade. Estamos gozando dos nossos “15 minutos de felicidade”, como elucida Rutger Bregman em Humanidade: uma história otimista do homem.

“Afinal, eliminamos a maioria das doenças infecciosas. Agora as vacinas salvam mais vidas por ano que o número de vidas que teriam sido poupadas se tivéssemos gozado de paz mundial durante todo o século XX. Somos mais ricos que em qualquer outro período.”

Então, por que pensar em sobrevivencialismo?

Um provérbio oriental muito citado nas redes sociais aponta para a resposta:

Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.

Essa ideia sugere que a história humana é caracterizada por ciclos, nos quais o estado de força ou fraqueza das pessoas influencia o ambiente em que vivem, e, por sua vez, esse ambiente molda as gerações futuras. 

É quase consenso entre historiadores, sociólogos e pensadores sociais que a sociedade atual esteja vivendo um “tempo fácil”. Algumas tendências e observações apontam para isso:

  • O século XXI tem sido marcado por avanços tecnológicos que melhoraram significativamente a qualidade de vida. A automação, a tecnologia de informação, a medicina avançada e as comodidades modernas tornaram a vida mais fácil e conveniente. No entanto, esse nível de conforto tende a criar uma geração que não está acostumada a enfrentar desafios e a desenvolver habilidades de resolução de problemas.
  • A dependência de tecnologias e sistemas avançados é uma espada de dois gumes. Embora tais inovações tenham melhorado nossa vida, a dependência excessiva pode nos tornar vulneráveis a crises se essas tecnologias falharem, como vemos em casos de ataques cibernéticos ou interrupções no fornecimento de energia.
  • Em um mundo de comodidades e facilidades, as habilidades de enfrentamento e resiliência podem ser negligenciadas. As gerações mais jovens podem não ter as oportunidades de desenvolver habilidades de enfrentamento e resistência que gerações passadas tiveram.
  • A conectividade digital e a mídia social proporcionaram formas novas e convenientes de interação, mas também podem levar ao isolamento social e à falta de habilidades de comunicação interpessoal. O enfraquecimento das relações sociais pode afetar a coesão social e a capacidade de trabalhar juntos em tempos de desafio. Quanto mais fechadas em si mesmas, mais egoístas as pessoas se tornam, e isso em tempos de crise se torna um fator crucial.

Sendo mais enfático, estamos hoje diante de um grande problema! As pessoas têm permitido que a cultura moderna as transformem em zumbis. Ao perseguirem cegamente o conforto e facilidade, elas se esquivam totalmente do mundo real.

Cegas pela ganância e pelo prazer, estão se tornando totalmente alheias aos riscos. Porém, diante disso, há aqueles que decidem ‘sair da Matrix’. São a minoria que decide despertar e encarar a realidade como ela é.

Esses indivíduos escolhem ser fortes para enfrentar os tempos difíceis. E na visão sobrevivencialista, a força não necessariamente está nos músculos, mas na ‘capacidade de adaptação’. 

Com base nos ideais de Darwin, Leon C. Megginson declarou que, em termos evolutivos, “não é o mais forte, nem o mais inteligente que sobrevive, mas aquele que melhor se adapta às mudanças”.

Ao permitir que nos equipemos com um conhecimento mais aprofundado e atualizado sobre a arte de sobreviver, desenvolvemos uma capacidade única de nos adaptar.

O sobrevivencialismo é um movimento de grupos ou indivíduos que se PREPARAM ATIVAMENTE para emergências.

Repare na palavra “ativamente” – ativo é o oposto de passivo.

E eis a dura verdade: mais de 95% da população vive na passividade, esperando que alguém faça o que deveriam fazer por si mesmos.

Uma pessoa que não aprende nada sobre segurança e defesa pessoal, que não cria nenhum processo de reserva financeira e alimentar, que depende totalmente do sistema (Estado e Grandes Corporações) para se manter, e que não consegue manusear uma simples ferramenta…

É quem podemos chamar de “passiva” (para não dizer covarde ou negligente) — e essa pessoa realmente precisa contar com a sorte caso as coisas saiam dos eixos. 

Se você é religioso como eu, pode argumentar: “Ah, mas é Deus quem nos guarda!” Sim, também creio seriamente nisso. “Se o Senhor não guardar a casa, em vão vigiam as sentinelas”, diz o salmista.

Mas lembre-se que Deus não faz o nosso trabalho. Ele nos dá recursos, nos ilumina com sua sabedoria e intervém milagrosamente quando convém. Mas precisamos fazer a nossa parte.

É assim desde o Gênesis, e será assim até o fim último. Aliás, justamente por não vivermos mais no Éden é que devemos estar preparados. Longe do modelo de sociedade planejado pelo Criador, a sociedade vive em constante decadência espiritual e moral, e isso exige que sejamos prudentes.

Um antigo provérbio popular arremata: 

ESPERE O MELHOR, PREPARE-SE PARA O PIOR, ACEITE O QUE VIER.

Em um primeiro momento, parece que estamos diante de uma mensagem clichê de um filme trash de artes marciais da década de 1980. Mas na verdade, se trata de uma lição valiosa que pode ser aplicada a todos os aspectos da vida.

Embora queiramos acreditar que temos total controle sobre as nossas vidas, a realidade é que controlamos muito pouco o que acontece em nosso entorno.

Mesmo sendo excelentes planejadores, desafios inesperados podem surgir, e os planos podem ser alterados por uma infinidade de razões.

No caso do sobrevivencialismo, consideramos: catástrofes naturais, catástrofes provocadas pela humanidade, ruptura na ordem social e política, colapso geral da sociedade, colapso da economia e emergências sanitárias (como a pandemia de Covid-19).

Embora não possamos impedir que acontecimentos como esses surjam, podemos nos preparar da melhor maneira possível para enfrentar tais situações desafiadoras, mantendo a mente calma, a postura confiante e o coração em paz.

Esse tripé é importantíssimo, porque a ideia não é que você fique desesperado, ansioso e amedrontado, mas que seja racional e emocionalmente inteligente.

É importante lembrar que, por mais estável que seja a nossa vida, são grandes as probabilidades de surgirem imprevistos, e por isso devemos estar prontos para lidar com eles de forma adequada.

Nesse caso, a visão sobrevivencialista enfatiza: produção e armazenamento de alimentos, preparação para autodefesa, e construção de estruturas que ajudem a sobreviver (e até mesmo sumir).

Tudo sem deixar de abordar o mais importante: os aspectos espirituais, emocionais, psicológicos e físicos que envolvem a preparação.

Origens do termo e conceitos

“Sobrevivencialismo” vem de survivalism e tem suas raízes nos Estados Unidos. Suas principais terminologias estão profundamente enraizadas no idioma inglês, refletindo suas preocupações primárias com os riscos específicos que existem naquele país.

No entanto, a crescente adesão a esse movimento por pessoas de diversas partes do mundo ampliou significativamente o escopo do conceito, transcendendo as fronteiras do contexto norte-americano.

Acredita-se que o sobrevivencialismo teve origem durante a Guerra Fria. Preocupados com o estado do mundo e a constante ameaça de possíveis ataques, muitos americanos começaram a se preparar para o pior, construindo bunkers a fim de proteger de possíveis ataques e bombardeios.

Posteriormente, a filosofia se estenderia para outros cenários, como riscos de tornados e quebra monetária.

Em 1970, temos a chamada Primeira Onda do Sobrevivencialismo, com Howard Ruff alertando sobre o colapso socioeconômico em seu livro de Famine and Survival in American (Fome e Sobrevivência na América). O livro foi publicado durante um período de inflação galopante, na esteira da crise do petróleo de 1973.

A maioria dos elementos do sobrevivencialismo podem ser encontrados lá, incluindo o aconselhamento relativo à armazenagem de alimentos. O livro também defendeu a tese de que os metais preciosos, como ouro e prata, têm um valor intrínseco que os torna mais utilizáveis no caso de um colapso socioeconômico do papel-moeda.

Na década seguinte, John Pugsley publicou The Alpha Strategy (A Estratégia Alpha), que esteve na lista dos best-sellers do jornal The New York Times por nove semanas em 1981. Mesmo após 28 anos em circulação, A Estratégia Alpha é considerada uma referência sobre a estocagem de alimentos e produtos domésticos e sobre como lidar com inflação e escassez. Isso tornou o livro popular entre os sobrevivencialistas.

Trabalhos como os citados mostram que o sobrevivencialismo prega a importância de estar preparado para qualquer tipo de situação de emergência ou crise, mas te ajuda a ter uma vida mais econômica, segura e significativa mesmo que nenhuma crise ocorra (isso explica o subtítulo deste livro). 

Também podemos entender o sobrevivencialismo como “técnicas de sobrevivência que compõem um conjunto de práticas emergenciais que, se compreendidas, treinadas e aplicadas em situações extremas, permitem ao indivíduo prolongar a própria vida e manter-se fisicamente íntegro”.

Os preparadores

Os chamados preppers, em tradução, “preparadores”, são os seguidores dessa filosofia, movimento ou estilo de vida. A maioria dos adeptos levam uma vida normal, estudando, trabalhando, construindo família, tendo hobbies.

Com a diferença de estarem alertas para riscos eminentes e de adotarem hábitos que os mantenha preparados caso ameaças se tornem reais.

A unidade entre os sobrevivencialistas vem do fato de terem passado por alguma experiência mais ou menos complexa que os fizeram refletir sobre a fragilidade e a insegurança da vida; desastres naturais, epidemias, apagão elétrico, ataques terroristas ou simplesmente a pura visão da realidade.

Essas são algumas razões que levam os seguidores dessa filosofia a adotarem um estilo de vida voltado à preparação. 

De acordo com o site The Prepared, existem seis regras básicas para iniciar uma jornada no sobrevivencialismo: 

  1. Economia: construir uma base financeira sólida;
  2. Autossuficiência: preparar sua casa para duas semanas ou mais de provisão;
  3. Evasão: ser capaz de deixar a sua casa sem aviso prévio;
  4. Segurança urbana: estar preparado para emergências que ocorrem fora de casa;
  5. “Faça você mesmo”: aprender habilidades básicas e praticá-las para não depender de terceiros;
  6. Movimento constante: continuar aprendendo além do básico, compartilhar e recrutar outras pessoas.

Ao conhecer os sobrevivencialistas, alguns podem instantaneamente traçar o perfil do ‘nerd solitário amante de conspiração que decide se isolar da sociedade’.

Mas com um pouco mais de observação, constata-se o oposto. Em A Mente é Maravilhosa, encontramos as seguintes características entre os sobrevivencialistas:

  • São homens e mulheres entre 25 e 45 anos que gostam de cultura, eventos sociais, e que moram em áreas urbanas;
  • Não acreditam em teorias da conspiração e são mais orientados à análise da realidade;
  • Estão cientes das deficiências do sistema para se preparar para qualquer catástrofe, tanto sanitária quanto ambiental ou de qualquer outro tipo;
  • Evitam falar muito sobre política, sobretudo, ideológica-partidária.

O geógrafo social da Faculdade Universitária de Dublin e autor do livro Bunker: Building for the End Times (Bunker: Construindo para o Fim dos Tempos), Bradley Garrett, estima que existam cerca de 20 milhões de preparadores em todo o mundo (e o número continua a crescer). 

Ao elaborar seu próprio brasão, os criadores do canal Sobrevivencialismo traçaram o que consideram os cinco pilares da filosofia sobrevivencialista:

  1. Defesa: ser capaz de defender a si mesmo a aquilo que ama;
  2. Resgate: ser capaz de ajudar as pessoas que estão em risco;
  3. Sustentabilidade: produzir os próprios recursos;
  4. Sobrevivência: saber usar recursos básicos na própria subsistência;
  5. Liberdade: defender a vida livre em todos os casos.

Um termo muito comum usado pelos preparadores é bushcraft, cuja tradução livre seria “artes do mato”. Tal conceito abrange todas as competências que possibilitam a sobrevivência integrada na natureza, sustentada na utilização dos seus recursos. 

O bushcraft recria o modo intrinsecamente humano de interação com a natureza, geralmente tratando de competências como fazer fogo, construir abrigos, ou fabricar utensílios.

Inclui ainda os conhecimentos de fauna e flora que permitam encontrar alimento ou de interpretação dos recursos do meio ambiente, como captar e purificar água ou orientar-se pelo sol ou as estrelas.

Porém, fique tranquilo se você não se identifica com o mato, porque nem todo sobrevivencialista precisa ser “mateiro”. Você pode usar os conhecimentos dessa área para sobreviver até mesmo nos ambientes urbanos. Aliás, existe uma categoria dedicada exclusivamente a isso: o “Sobrevivencialismo Urbano”. 

Nesse caso, você pode aprender desde técnicas mais radicais e aventureiras sobre como se defender da violência urbana, construir abrigos seguros em cidades e praticar evasão para os casos de calamidades.

Ou mesmo aderir práticas mais moderadas, como armazenagem de alimentos, agricultura vertical e coleta e purificação de água (assuntos tratados neste livro). 

Ainda sobre as origens do movimento sobrevivencialista, há outras fontes, como políticas de governo, ameaças de guerra nuclear, crenças religiosas e livros sobre alertas para colapsos econômicos e sociais, tanto não fictícios como de ficção apocalíptica e pós-apocalíptica.

Durante a já citada Guerra Fria, nos EUA e na Europa Ocidental, os programas governamentais de defesa civil estimulavam a construção de abrigos nucleares públicos e treinamento para crianças, como a série Duck and Cover (nos EUA). 

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias há décadas orienta seus fiéis a estocarem pelo menos três meses de comida para eles e suas famílias, assim como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, que convida os filhos dos fiéis a participarem dos Clubes de Aventureiros e de Desbravadores, onde recebem treinamento para sobreviver no campo.

(Membros mais fervorosos dessas religiões chegam a aderir modos de vidas mais reclusos que os mantenha fora do sistema).

A Grande Depressão que se seguiu à quebra da Bolsa norte-americana em 1929, disparada por uma contração deflacionária do crédito, é frequentemente citada pelos sobrevivencialistas como um exemplo da necessidade de estar preparado.

Na época, muita gente quebrou, se suicidou ou caiu na extrema miséria — algo que certamente poderia ter sido evitado ou amenizado com práticas de preparação.

Apesar de não ser muito conhecido no Brasil, o movimento sobrevivencialista cresce todos os dias no país. Há um despertar de mais e mais pessoas que entendem que depender do sistema, pelo menos não completamente, não é o melhor negócio.

Há poucos, mas excelentes sites e canais dedicados ao assunto e as redes sociais facilitam o espalhar da mensagem.

A pandemia de Covid-19 foi um evento que deixou as pessoas mais presentes para o movimento. Quando ocorreu a pandemia, o desespero se alastrou resultando na falta de mantimentos, como alimentos não perecíveis e papel higiênico.

Durante o caos, entretanto, os preparadores mantiveram-se calmos e colocaram em prática muito do que haviam aprendido. A falta de comida e de insumos não os afetou, pois eles haviam se preparado antes da catástrofe. 

A Nova Onda Sobrevivencialista

Uma nova onda do movimento sobrevivencialista começou depois dos ataques terroristas ao World Trade Center, em Nova York, em 2001 (e outros ataques similares em Bali, Madri e Londres). Especula-se que tal ressurgimento parece ser tão forte quanto a primeira onda de 1970.

O medo da guerra, somado à crescente conscientização sobre desastres ambientais, mudanças climáticas, apagões e incerteza econômica, juntamente com a vulnerabilidade evidenciada após eventos como o tsunami no Oceano Índico em 2004, o furacão Katrina, as pandemias de gripe suína e aviária, o tsunami no Japão em 2011 e, mais recentemente, as transformações climáticas e o maior surto de Ebola da história, reacendeu o interesse popular pelo sobrevivencialismo.

A preparação se torna fundamental no imaginário de muitas pessoas, que agora buscam estocar suprimentos, o ganho de habilidades úteis, desenvolver contatos com outras pessoas de visões semelhantes e reunir o máximo de conselhos e informações possível.

Mais pilhas de livros foram publicadas nos últimos anos oferecendo conselhos de sobrevivência para vários desastres em potencial. Além dos títulos citados, lançados desde os anos 1970, blogs e fóruns da Internet se consagram como formas populares de divulgação de informações sobre o sobrevivencialismo.

Os problemas econômicos decorrentes do colapso do crédito, desencadeado pela crise dos empréstimos hipotecários nos Estados Unidos, em 2007, juntamente com a escassez global de grãos, também levaram um segmento mais amplo da população a adotar medidas preparatórias.

James Wesley Rawles, editor do SurvivalBlog e autor do romance de sobrevivência Patriots: A Novel of Survival in the Coming Collapse (Patriotas: um romance de sobrevivência no colapso que se aproxima), foi citado pelo New York Times em abril de 2008, afirmando que o “interesse no movimento sobrevivencialista está experimentando seu maior crescimento desde o final da década de 1970.”

Em 2009, Wesley também foi citado pela Associated Press, declarando: “Há tantas pessoas preocupadas com a economia que há um interesse maciço na preparação, e isso é notável, pois transcende todas as divisões sociais, econômicas, políticas e religiosas. Estamos vivenciando um período de aprendizado sem precedentes.”

No mesmo ano, o surgimento da gripe suína H1N1 impulsionou ainda mais o interesse pelo sobrevivencialismo e resultou em um aumento significativo nas vendas de livros sobre preparação, tornando o movimento ainda mais popular.

Eventos como o terremoto no Haiti, o derramamento de petróleo da BP, o terremoto seguido de tsunami no Japão, e mais recentemente a pandemia de Coronavírus, revitalizaram a comunidade sobrevivencialista.

Fundador do Instituto Americano de Pesquisa de Tendências, Gerald Celente identificou uma tendência que denominou de “neo-sobrevivencialismo”. Em uma entrevista de rádio com Jim Puplava, em 18 de dezembro de 2009, ele explicou esse fenômeno:

Quando olhamos para os dias anteriores em que estávamos em um ‘modo de sobrevivência’, o último grande evento foi o bug do milênio. No entanto, nos anos 1970, a imagem que tínhamos era a de um sobrevivencialista caricato, aquele indivíduo armado com um AK-47 indo em direção às montanhas, com munição e comida enlatada suficientes para enfrentar qualquer desastre. Isso é muito diferente do que estamos vendo agora: pessoas comuns tomando medidas inteligentes e se preparando para o pior de maneira sensata. O neo-sobrevivencialismo abrange todos os aspectos possíveis, desde o cultivo próprio de alimentos até a Autossuficiência, envolvendo áreas urbanas, suburbanas e rurais. Isso também implica um compromisso crescente comunitário, colaboração entre vizinhos e compreensão de que estamos todos juntos nisso. Quando nos ajudamos mutuamente, esse é o melhor caminho a seguir.

Esse último aspecto foi enfatizado no Jornal de Pesquisa de Tendências: “O espírito comunitário inteligente é o valor central do neo-sobrevivencialismo.”

Onde aprender mais sobre sobrevivencialismo?

Existem inúmeros sites e canais dedicados ao assunto que você pode consultar, além dos livros que apontamos como fonte nesta matéria.

Você também pode conhecer o livro Sem Paranoia – Manual de Sobrevivência para Tempos Bons e Difíceis, escrito pelo autor Felipe Horta.

Horta oferece um guia abrangente e prático para preparar-se diante de desafios modernos. O material vai além da mera sobrevivência física, explorando questões emocionais, financeiras e estratégias de adaptação.

É uma obra embasada na experiência vivida pelo autor, cuja jornada para adotar um estilo de vida mais voltado à preparação foi transformadora.

Com insights valiosos e estratégias embasadas na vida real, este ebook se destaca por oferecer uma visão holística da preparação para crises, motivando o leitor a expandir sua mentalidade e habilidades.

A leitura deste material é fundamental para qualquer pessoa que busca uma abordagem consciente e prática do sobrevivencialismo diante da incerteza dos tempos atuais.

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