Parecia mais um dia comum no rancho.
Eu estava na varanda, curtindo a calmaria da manhã, quando ouvi os gritos desesperados das galinhas. O som era inconfundível — algo estava atacando o galinheiro de novo!
Corri até lá e, ao abrir a porta, vi um rastro de destruição: ovos quebrados, penas espalhadas e um dos pintinhos desaparecido. Sabia que não era a primeira vez que isso acontecia.
O predador havia voltado.
Meu amigo Pedro, que estava passando uma temporada na minha casa, logo se juntou a mim. Ele tinha chegado há alguns dias para participar da minha festa de aniversário que aconteceria dali a dois dias.
— Acho que é o maldito lagarto novamente — eu disse, examinando as marcas no chão e as penas espalhadas. — Um daqueles grandes que aparecem de vez em quando.
Pedro assentiu, analisando o galinheiro com atenção. Ele se abaixou, inspecionando as pegadas e o rastro deixado pelo intruso e afirmou com decisão:
— Vamos pegar esse bicho antes que acabe com todos os seus pintinhos.
Logo nos equipamos com facões e porretes. Como a casa estava movimentada com crianças e idosos, não quis usar arma de fogo. O lagarto havia escapado, mas sabíamos que ele voltaria. E bastaram duas horas para que o réptil ladrão retornasse. Dessa vez, meu filho de treze anos foi quem avistou o predador.
— Pai! Pai! O lagarto voltou.
Os olhos de Pedro encontraram os meus. Demos aquela balançada de cabeça com um sorriso de canto. Sabíamos que o momento havia chegado.
Ao chegarmos no galinheiro, vimos que o lagarto estava realmente de volta.
Ele se movia furtivamente, aproximando-se dos ovos como um ladrão na noite.
Pedro fez um sinal, e nos movemos em silêncio, cercando a criatura. Meu plano imediato foi me fechar com o lagarto, para que ele não tivesse chance de fuga.
A criatura me olhou com um olhar frio e sanguinário. Ele sabia que a casa havia caído. Me posicionei com um porrete, e ele avançou em minha direção emitindo um som de fúria. Me esquivei furtivamente, e ele tentou desesperadamente sair do galinheiro. Sem sucesso, pois a porta estava trancada.
Essa batalha durou cerca de cinco minutos. Confesso que estava receoso de atacá-lo, pois nunca havia lidado com esse tipo de bicho antes.
Após alguns “olés” no bicho que, amedrontado, tentou me atacar várias vezes, decidi abrir o galinheiro e deixar que ele saísse até a área cercada de cisco.
Ele saiu rapidamente e tentou ultrapassar a cerca na direção onde tinha entrado. Aproveitei para desferir uma porrada certeira na cabeça do animal, encerrando a batalha com golpes contínuos de facão.
A tensão em meu corpo começou a se dissipar, sendo substituída por um alívio quase palpável. A criatura estava morta. Abaixei-me para examinar mais de perto, sentindo uma mistura de respeito, alívio e asco. Aquela besta havia dado trabalho, mas finalmente, a segurança do galinheiro estava garantida.
— Missão cumprida — disse Pedro, dando um tapinha no meu ombro.
Arrastamos o lagarto de volta para a propriedade. Era pesado, mas conseguimos levá-lo até uma clareira aberta perto da casa. Decidimos ali mesmo que o melhor seria usar a carne em algo útil: uma refeição exótica. Pedro foi o responsável por limpar o bicho. Mais do que um problema resolvido, aquilo se transformou em uma história que contaríamos por muito tempo.
De volta ao galinheiro, ajustamos a cerca e reforçamos as defesas, garantindo que nenhum outro predador faria estragos tão cedo. No final do dia, Pedro e eu sentamos na varanda, tomando uma cerveja gelada enquanto o sol se punha. Já devidamente temperado, empanado e frito, o lagarto havia se transformado num tira-gosto delicioso.
— Você deveria escrever sobre isso no seu próximo livro — brincou Pedro.
Ri, pensando que talvez ele tivesse razão. A vida no campo, cheia de desafios, é uma fonte infinita de histórias dignas de serem contadas.
E, naquele dia, havíamos escrito mais uma delas.
*Este é um relato com tom ficional, que não necessariamente reflete a realidade.