Sempre que surgem polêmicas envolvendo campanhas publicitárias com cunho ideológico, como a atual do Burger King, inevitavelmente lembro que todos os grandes regimes políticos, até os mais vis e sanguinários, valeram-se do poder da publicidade.
Em todas as etapas da revolução russa, por exemplo, Lênin usou a propaganda para divulgar e reforçar os ideais ditatoriais comunistas. O regime nazista até o final utilizou a propaganda de forma efetiva para mobilizar a população alemã no apoio à sua guerra de conquistas.
Inclusive, nesses casos, a propaganda foi essencial para dar motivação àqueles que executavam os extermínios em massa das vítimas do regime. Existiam ministérios e setores inteiros para cuidar de tudo, dos slogans aos símbolos, dos discursos aos cartazes.
Antes das grandes movimentos no Século XX, a comunicação, de modo geral, foi usada em outras revoluções, como a Revolução Francesa. Foi a imprensa que trabalhou ostensivamente para que os atos do iluminismo fossem comunicados em todos os meios possíveis.
Portanto, o que vemos hoje nos meios atuais não é novidade — são apenas novas maneiras de incutir as mais diversas ideologias no imaginário popular.
A propaganda sempre será usada para a propagação de ideais, dos mais úteis e humanitários, aos mais vis e bárbaros. E como profissional de comunicação, posso afirmar que isso sempre irá funcionar, porque as massas são formadas por chimpanzés, e os profissionais de comunicação como amestradores que trabalham para dar lucro aos donos dos circos.
Sei que soa forte, e seria bom não ter que começar a semana assim, mas é uma afirmação com conhecimento de causa que, pelo menos vez ou outra, precisa ser feita. A grande verdade é que por trás de todo discurso bonitinho e inclusivo, até mesmo os que envolvem liberdade sexual, há lucro sendo gerado.
Não falo apenas de lucro financeiro, porque não obstante, algumas campanhas geram prejuízo — a Burger King mesmo sofreu uma onda de reações negativas, recebendo três vezes mais descurtidas que curtidas no vídeo da campanha —, mas sim, há ganhos obtidos a partir da conexão com parte da massa.
Afinal, como escreveu Blair Warren, “As pessoas farão qualquer coisa por aqueles que encorajam seus sonhos, justificam seus fracassos, acalmam seus medos, confirmam suas suspeitas e ajudam a atirar pedras contra seus inimigos”.
A Burger King agradou principalmente o público LGBTQIA+ e seus simpatizantes, mas como poucos têm coragem de aceitar serem tachados de intolerantes e anti-minorias, muitos comprarão a ideia — mesmo que isso envolva questões delicadas com crianças (leia a nota no final do artigo).
Estou certo de que nos próximos anos haverá cada vez mais campanhas desse tipo, seja para propagar mensagens políticas, filosóficas ou sexuais. E isso será feito, não porque necessariamente as marcas acreditam nas ideologias, mas porque há um lucrativo jogo de interesses.
Para fechar, trago um pensamento do executivo de publicidade Bill Bernbach: “Todos nós que usamos profissionalmente os meios de comunicação de massa somos formadores da sociedade. Podemos vulgarizar essa sociedade. Podemos brutalizá-la. Ou podemos ajudar a elevá-la a um nível mais alto.”
“Vulgarizar e brutalizar a sociedade” (leia-se usar a ideologia como meio ou fim) sempre será mais lucrativo a longo prazo, mesmo que isso resulte em prejuízo momentâneo. Quanto a isso, temos que lembrar de uma das lições que Millôr Fernandes nos deixou:
“Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal”.
Nota: Segundo o Conar, a publicidade Infantil é a divulgação de produtos e serviços com foco em crianças. Por causa da vulnerabilidade desse público, ela é caracterizada como abusiva. O órgão defende que a publicidade não pode associar crianças e adolescentes a situações incompatíveis com sua condição, sejam práticas ilegais, perigosas ou socialmente condenáveis.
Perfeita colocação!