Meia-idade é fase crítica para garantir envelhecimento saudável
Mudanças no estilo de vida nesse período têm o potencial de alterar um quadro de morbidade no futuro
Na coluna de terça-feira, abordei o trabalho de cientistas em busca de biomarcadores para intervir precocemente no envelhecimento. Hoje, o assunto é como viabilizar um sistema de saúde que atenda ao novo perfil demográfico mundial – um dos temas do último dia da conferência anual da UK Spine, consórcio que reúne centros de excelência britânicos. O economista Stuart Redding, especialista em cuidados primários e pesquisador da Universidade de Oxford, afirmou que é preciso ajustar a lente que só enxerga os custos diretos do envelhecimento: “esses custos estão diretamente relacionados ao fato de que as pessoas têm a saúde deteriorada na velhice. Estimular um estilo de vida saudável será a grande revolução das políticas públicas e mudará o quadro. Os indivíduos terão que participar e se engajar no processo”.
O Reino Unido tem a meta de, até 2035, estender a vida saudável da população em cinco anos. Um dos maiores desafios será vencer a desigualdade, ressaltou Lynne Cox, professora do departamento de bioquímica de Oxford: “a expectativa de vida pode variar até dez anos entre pessoas de diferentes perfis socioeconômicos. Crianças têm que estar em contato com a natureza, num ambiente sem poluição. Adultos na meia-idade têm que ter as ferramentas para mudar seu estilo de vida e ganhar a chance de envelhecer bem, mas faltam opções para que façam as melhores escolhas. Não adianta dizer para a pessoa que ela deve comer comida fresca se, no local onde mora, só há produtos processados para vender. Ao reduzir a desigualdade, a Suécia conseguiu diminuir a morbidade da população em seus anos finais”.
Lynne Cox, professora do departamento de bioquímica de Oxford: “a expectativa de vida pode variar até dez anos entre pessoas de diferentes perfis socioeconômicos” — Foto: Divulgação https://1fc414554b5aebea51414c978421a004.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Para ambos, a saída é focar em atenção primária e apostar na tecnologia do monitoramento remoto: pacientes com doenças crônicas poderão ser acompanhados e estimulados a não abandonar o tratamento. “É dessa forma que vamos encorajar as pessoas a ter uma dieta saudável, fazer exercícios, não fumar, nem beber”, completou Cox. Redding acrescentou que é fundamental ouvir os idosos: “a questão não se limita a tratar a doença, devemos enxergar o cidadão holisticamente, e o que atende a suas necessidades e limitações. O cuidado vai demandar uma abordagem transversal, passando por todas as políticas públicas”.
O também economista Andrew Scott, da London Business School, disse que o envelhecimento da população do planeta ainda é uma questão pouco compreendida e que seu impacto é subestimado. “Estamos vivendo mais e somos saudáveis por mais tempo. Isso deveria ser uma boa notícia para a economia, porque a humanidade ganhou tempo para fazer coisas e investir no futuro, o que significa negócios em diversos campos, de finanças a relacionamentos. A mudança na estrutura demográfica beneficia todos”, enfatizou. Na sua avaliação, uma maior expectativa de vida tem que ser acompanhada de dois atributos: “essa existência prolongada deve ser saudável e produtiva. Mesmo não trabalhando, idosos podem contribuir de alguma forma com sua experiência, criando riqueza para a sociedade”.
fonte: G1
Por Mariza Tavares
Jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.