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+ de 20 km de bicicleta na cidade do Rio de Janeiro

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Embarcamos com a bicicleta na ponte aérea de São Paulo ao Rio de Janeiro com a intenção de percorrer os deliciosos 20 quilômetros da ciclovia que vai do Aeroporto Santos Dumont ao Leblon, mas acabamos sendo seduzidos a pedalar bem mais que isso.

A ciclovia mais linda do Brasil começa em um tranquilo trecho entre a Baía de Guanabara e a pista de pouso do aeroporto doméstico Santos Dumont. Foi ali que cheguei, em uma bela manhã de sexta-feira. Segui até a área de bagagens e lá estava ela: minha bicicleta. 

Era trazida por um funcionário tão simpático quanto o que me recebera no check-in do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

Em instantes, estava pedalando no centro do Rio. Simples assim. Meu trabalho era igualmente simples: seguir para a Zona Sul pela orla descobrindo boas paradas, observando beldades, bebericando prosecco, acepipando camarões. Tudo isso em um passeio leve, plano e lindo. Seriam apenas 20 quilômetros, possíveis de serem cumpridos em duas horas.

Quem foi que disse que vida é difícil?

Cenário de uma das pedaladas urbanas mais clássicas do mundo, a Ciclovia da Orla tem mais de 20 anos. Foi inaugurada em 1992, para a conferência da ONU que iniciou uma fase mais globalizada do movimento ambiental mundial, a Rio 92. A ciclovia tem trânsito pesado justamente por ter feito com que pelo menos 10 mil carros, deixassem de circular diariamente. Dezenas de milhares de cariocas pedalam em seu asfalto liso, indo à praia, à escola, ao trabalho, ao mercado e ao aeroporto.

Antes de começar a rodar por ela, subi pedalando pela passarela em frente ao aeroporto para deixar minha mochila no hotel. Atento à demanda de gente alguns hotéis oferecem bicicletas para os hóspedes. No Rio não faltam opções parecidas. A cidade é a única no Brasil a ter um bom sistema de compartilhamento de transporte para ciclistas, o Bike Rio, nos moldes dos de Paris, Londres e Washington. Por enquanto há poucas estações, apenas nos bairros da Zona Sul, mas o programa será expandido para toda a cidade. 

Para alugar bicicleta no Bike Rio basta se cadastrar pelo site e, quando chegar às estações, telefonar com o celular. E se você não sabe como fazer o celular descarregar devagar aconselho aprender para tirar muitas fotos. Seguindo as instruções, em menos de 30 segundos uma luz verde acende e a magrela é liberada. Cada empréstimo deve durar o máximo de uma hora, ou é cobrada uma taxa por hora excedente. Fácil né?

Quando botei as rodas na ciclovia, fazia 35 graus e a maresia melada do Rio me abraçou. Segui pelo jardim tropical criado pelo paisagista Burle Marx, em meio aos zigue-zagues do Aterro do. Continuei por Botafogo, com o Pão de Açúcar e entrei pela Urca. O sol estava de rachar. Mas, como intrépidos que somos, não tínhamos tempo a perder. Precisávamos experimentar as delícias do Rio.

DOIS CHOPES E UM PELÉ

Cruzamos o túnel que vai para Copacabana (o ponto mais perigoso da rota) e viramos à esquerda no Leme, a ponta de praia tranquila que contrasta com a confusão do bairro. Como era hora do almoço, ocupamos uma das mesas do Fiorentina, tradicional restaurante das celebridades. Desde 1957 a casa recebe clientes como João Paulo II, John Malkovich e Pelé, que batizam os pratos do cardápio. Dois chopes, por favor.

Seguimos cumprindo diligentemente as ordens dos nossos editores. Tomamos um cafezinho na Confeitaria Colombo do Forte de Copacabana, filial da antiga (e lindíssima) loja do Centro. Mais umas voltinhas de bike e nos sentamos a uma mesa ao ar livre no Azul Marinho, no Arpoador, para um prosecco vespertino, enquanto a claridade baixava no céu. Fomos até o fim do Leblon na luz mágica do entardecer e, ufa, completamos os 20 quilômetros combinados. Missão cumprida, paramos para um suco em um local frequentado por surfistas de peito largo e morenas de pernas longas.

Voltamos calmamente ao Arpoador, onde amarramos as bicicletas e nos pusemos a experimentar os diferentes tipos de gim-tônica do bar Astor, incrementados com ingredientes como açafrão, pétalas de rosa e anis-estrelado. Era noite quando saímos do bar e entramos na porta ao lado, a casa de shows Studio RJ. Lá dentro, vários belos exemplares do gênero feminino dançavam enquanto uma banda cantava Jorge Ben Jor: “Sonho, felicidade / Você encontra nesta cidade / Cuidado para não cair da bicicleta.”

Bom conselho, Ben Jor. Tomei o rumo do hotel, me equilibrando por 15 quilômetros de orla, embalado pela noite e pela brisa. Foram 40 minutos de pedalada, sem pressa. Era 1 hora da manhã de sexta-feira e o Aterro estava escuro, mas cheio de gente. Times de futebol de várzea uniformizados se enfrentavam, skatistas passeavam com cachorros, casais conversavam de mãos dadas.

PARA O ALTO E AVANTE

Imagine um prédio de 20 andares. Agora imagine cinco prédios de 20 andares empilhados um sobre o outro. E agora imagine uma rampa inclinada que sobe do térreo do primeiro prédio ao 20 andar do último. Isso é uma subida de 380 metros. Eram essas contas que eu fazia na minha suada cabeça no sábado de manhã, enquanto bufava e tentava me manter sobre a bicicleta subindo a trilha que vai até a Vista Chinesa, 380 metros acima do nível do mar. Difícil.

A pauta era simples, 20 quilômetros de asfalto plano. Felizmente, nossos corações ainda batem quando chegamos ao topo e ganhamos a recompensa. 

À nossa frente se descortinavam as montanhas de pedra cinza, com a cabeleira de feltro verde e, aos seus pés, a penugem de prédios, tão pequenos diante da grandeza de todo o resto. Tão pequenos os bares, os restaurantes, as celebridades diante da natureza. Eu segui adiante, pelos mirantes que deixam ver quase toda a cidade lá embaixo, das praias do Leblon à Ponte Rio-Niterói, das encostas do morro da Tijuca ao monumental Maracanã, em obras para a Copa.

Amarrei a bike para tomar um banho de bica e depois peguei a van que vai ao Cristo Redentor. Mais tarde, desci pelo bairro histórico de Santa Tereza e de lá parti de volta à orla. À noite, com Gilvan recuperado, seguimos para a Lapa para ver Criolo cantar com Caetano Veloso, num encontro de talentos que só acontece no Rio.

DOMINGÃO SEM CARRO

Vinte anos após a Eco 92, o Rio tem bem mais do que 20 quilômetros de caminhos para bicicletas. Em mais 20 anos, será igual a Amsterdã”, diz o ativista Zé Lobo, fundador da organização Transporte Ativo. Mas cuidado: ainda não é. Fora das ciclovias, bikers sofrem com motoristas que dirigem agressivamente.

Por enquanto, os melhores lugares para pedalar, além da orla, são os 7,5 quilômetros no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, que trilhamos no domingo. Fomos também ao Jardim Botânico e almoçamos no Jojö, um bistrô charmoso. Aproveitamos para passear ainda mais, uma vez que as avenidas à beira-mar de Leblon, Ipanema, Copacabana e Flamengo são fechadas para carros. 

Subimos no bondinho do Pão de Açúcar. E jantamos no restaurante mais antigo do Rio, o Lamas, no Flamengo, fundado em 1874. Hotel, banho, passarela e check-in no aeroporto. E lá foi eu empurrando minha bicicleta para a área de bagagens do terminal. A magrela parecia feliz.

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