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Você não deve nada ao Brasil

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“Vivemos dias estranhos desde quando nascemos, cara. A questão é que isso passou a ser mais claro. Olha para o seu passado, Maccedo. Quando foi que o Brasil ofereceu a você alguma coisa? Educação, oportunidade, etc.? Quando? O que você conseguiu foi por esforço inteiramente próprio. Você não deve nada a este país. Porque, na verdade, o Brasil, desde quando você nasceu, tentou te ferrar.”

O que você acabou de ler é o trecho de uma conversa franca que um amigo teve comigo ontem. Ele me fez enxergar o óbvio: que o Brasil sempre foi essa coisa horrorosa que conhecemos. Quando comecei a utilizar o termo “brasileiro praticante” para apontar o brasileiro que se deixou corromper, fui criticado.

“Mas, Paulo, isso é ser antipatriótico, temos que exaltar nossas qualidades. Temos até saúde gratuita.”

Gratuita? Em pleno 2021, ainda não entendem que pagamos e pagamos caro por algo que não recebemos? Viva o Sus é o cacete! Eu tenho trauma de hospital público, porque em boa parte da vida, minha família e eu vivemos o inferno na mão de burocratas do setor de saúde.

Poucos sabem, mas já precisei burlar o sistema para amamentar meu filho no hospital, porque o hospital não tinha banco de leite, e minha esposa, debilitada por causa de erros médicos durante o parto, estava sem conseguir produzir o alimento. O que eles disseram foi: “Não podemos fazer nada”.

Só gente muito hipócrita para exaltar algo desumano assim. A visão correta seria algo como: “O SUS é péssimo, mas há pessoas boas nele”. É o caso da enfermeira que mesmo atuando nesse contexto diabólico, ajudou meu pai quando estava doente. Fora tais exceções, é só choro e ranger de dentes.

Minha relação com o Brasil sempre foi de amor e ódio. Eu odeio a mentalidade tacanha do brasileiro médio, seu espírito de malandragem, sua corrupção generalizada, seu conformismo bandido, sua inveja constante. Vem daí o termo brasileiro praticante. E não ache que digo isso sentindo-me superior. Não, eu percebo que posso padecer de tudo isso também, mas recuso viver assim.

O amor vem do que há aqui, apesar de tudo. Meu amigo expressou melhor que eu: “Se há alguma coisa pela qual eu me orgulho de ser brasileiro, não tem absolutamente nada a ver com políticos ou o Estado. Orgulho-me da língua e da religião herdada de Portugal; da forma peculiar da nossa fé; dos nossos grandes escritores e mestres; dos humildes que se esforçam para manter-se em conformidade com a bondade; na beleza natural que, apesar de ser degradada anualmente, mantém-se; no nosso modo de chorar, amar, a nossa comédia. Orgulho-me disso. Deixo os políticos para receberem o orgulho do diabo”.

Movimentos como #EuMeRecusoADarErrado importam porque nos despertam para agir da melhor forma diante disso tudo. Ele traz aquilo que Ortega & Gasset sintetizou em “Eu sou e minhas circunstâncias; se não as salvo, não salvo a mim”.

Nossas circunstâncias são essas, é preciso salvá-las; e só há salvação quando se admite a perdição. Por isso, eu grito: EU SOU BRASILEIRO NÃO PRATICANTE!

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