Não fomos feitos para odiar
Já me perguntaram por que eu combato tanto a ideologia…
Primeiro, porque eu sei o quanto ela me fez mal e contribuiu para meu adoecimento psíquico. Não foi aleatório eu cair em uma crise depressiva na época em que mais pensava e escrevia sobre política.
Esse é um dos pontos que eu precisei repensar.
Hoje eu afirmo que não existe dignidade na ideologia. “A paixão política arrasta o sujeito até o túmulo”, escreveu um filósofo. “Nela, o ser humano é reduzido a objeto. Por isso o desejo de morte é comum.” Aqui está o ponto central deste texto…
Quando você deixa a ideologia dominar você, o ódio passa a ser justificado — você encontra motivos para agir contra quem você considera inimigo, e não é difícil desejar a morte do próximo.
Aliás, já vi por essas bandas gente comemorando muito quando algum oponente político bate as botas. Isso é terrível, e não há justificativa.
Nós não fomos feitos para odiar, mas para amar. O ódio é o mais alto grau de distorção, é a paixão que conduz ao mal que se faz ou que se deseja a outro. Tal sentimento não traz benefício algum.
A foto que você vê neste post é do Lula, para mim, uma das figuras políticas mais abjetas que conhecemos. Na época desta foto, Luiz Inácio lamentavelmente estava com câncer. Acredite, mesmo não tendo simpatia alguma por ele, apliquei esforço para rezar por sua cura.
Eu não queria odiar o Lula. Aliás, não quero odiar ninguém. Isso significa que não sentirei ódio em algum momento? Não, absolutamente. Mas estou convicto que não posso deixar isso me dominar.
C. S. Lewis escreveu que nenhum homem sabe o quanto é mau até se esforçar para ser bom. Eu sei que tenho muito potencial de odiar o Lula e qualquer outra pessoa que eu considero inimigo, mas eu decido não sentir isso.
É fácil praticar o mal, leitor ou leitora. Não é preciso muito esforço para cair no abismo. Basta deixar o carro em ponto morto e descer ladeira abaixo.
Agora, fazer o bem é difícil — ainda mais àquele que consideramos inimigo.
Mudando o exemplo, você pode ter todos os motivos para odiar o Bolsonaro, o Ciro Gomes, o Amoedo, ou qualquer outro oponente político, mas isso não significa que deve.
Primeiro, porque o ódio destruirá você antes de qualquer coisa. Segundo, porque você estará tornando o mundo pior, mesmo que acredite estar fazendo o bem. Afinal, não existe ódio do bem.
Eu sei que para alguns isso é contra intuitivo, amargo, dá um nó na garganta. Mas quem disse que deve ser docinho ou fácil de engolir?
Não é fácil não odiar, mas é necessário.
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”. (Jesus, no Evangelho de Mateus)
PS.: Eu entendo e estou ciente de todo o mal que o Lula fez. Entretanto, o senso deve ser de justiça. Torço que ele pague por tudo, mas não vou sentir ódio por ele.
É possível combater o inimigo com virtudes: coragem, senso de justiça, honra, etc. Sei que soa bonitinho demais, e que a realidade é complexa, mas precisamos colocar as coisas em seus lugares. Lembremos do que escreveu um poeta inglês:
“O verdadeiro soldado não combate porque odeia o que está na frente dele, mas porque ama o que está por trás dele.”